O envelhecimento da população brasileira é irrefutável; teremos cada vez menos indivíduos economicamente ativos para uma parcela cada vez maior de inativos
Em nova rodada de resultados do Censo 2022, o IBGE revelou há alguns dias que o Brasil está envelhecendo rapidamente. O número de idosos no país (pessoas com mais de 60 anos) verificado cresceu 56% frente a 2010. Já são 32,1 milhões de indivíduos nessa faixa etária no Brasil, o que representa 15,8% da população. Em 2010, o estrato representava 10,8%.
Na outra ponta, o fenômeno segue em rumo contrário, com registro de forte encolhimento. Os indivíduos entre 4 e 14 anos, que somavam 24,1% dos brasileiros em 2010, agora perfazem 19,8%. Resultado, em 2022 chegamos à marca de 80 idosos para cada grupo de 100 crianças. Em 2010, a relação era de 44,8 para cada 100.
Esta nova realidade demográfica vai nos encaminhando de maneira acelerada para o fim do bônus demográfico, fenômeno que trará desafios enormes para a economia e o bem-estar social no país. Não estamos preparados para um envelhecimento dessa magnitude, especialmente porque não conseguimos gerar oportunidades econômicas de qualidade e inserção produtiva para as novas
gerações, que terão o desafio monumental de apoiar e financiar esta árdua transição etária.
O fenômeno pode ser verificado, em toda a sua crueza, nos dados de estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que aponta que 36% dos jovens brasileiros, entre 18 e 24 anos de idade, não conseguem estudar nem trabalhar.
A superação deste problema só se dará com um ciclo consistente de desenvolvimento da economia somado a um ambicioso programa de transformação da realidade dos jovens brasileiros, pautado por uma mobilização de todos nos campos da educação, da participação cultural e da inclusão produtiva.
Além desse esforço, é preciso compreender as enormes oportunidades de produtos, serviços e inclusão que estão se abrindo com as economias prateada, do cuidado, verde, criativa e digital, que constituem as cinco grandes áreas de oportunidade para a geração de empregos daqui por diante. Aproximar as juventudes desses mercados pode alavancar a geração de renda para parcela significativa de nossa população.
A economia prateada, voltada para os consumidores com 50 anos ou mais, é a maior evidência de que o envelhecimento populacional, mais do que um problema, pode ser uma oportunidade. O segmento já é considerado a terceira maior atividade econômica do mundo, movimentando US$ 7,1 trilhões ao ano, segundo dados da Comissão Europeia.
A economia do cuidado é outra fronteira que merece atenção. Embora boa parte das atividades de cuidado com crianças, idosos e pessoas com deficiência hoje sejam feitas sem remuneração, de forma invisível, no âmbito familiar, é de se esperar que no futuro, com regulação, certificação e qualificação, essas ocupações ganhem nova dimensão no mercado de trabalho, abrindo oportunidades para os jovens. Segundo projeções baseadas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), se fossem consideradas no cálculo que estima a geração de renda no país, as atividades de cuidado equivaleriam a cerca de 11% do PIB.
Já a economia verde, que busca reduzir os impactos ambientais e promover o uso sustentável dos recursos naturais, é outro campo poderoso de oportunidades. Estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estima que, até 2030, ao menos 15 milhões de postos de trabalho serão gerados nesse segmento na América Latina e no Caribe. Boa parte desses empregos será ofertada no Brasil, o que nos obriga a preparar adequadamente os jovens para este desafio.
A economia criativa também desponta como alternativa potente para a inserção no mundo do trabalho. O segmento já emprega mais de 7 milhões de trabalhadores e em 2020 respondeu por 3,11% do PIB, segundo estudo do Observatório da Fundação Itaú.
No mundo digital, por sua vez, há um ciclo virtuoso de oportunidades, com a expansão acelerada de atividades de e-commerce, de inteligência artificial e de transformações tecnológicas. O segmento, entretanto, demanda fortes habilidades de raciocínio lógico e temos lacunas importantes de formação educacional a superar. Apenas 5% dos estudantes do ensino médio da rede pública apresentam nível adequado de aprendizagem em matemática, segundo dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). E 68,1% dos nossos estudantes com 15 anos, avaliados no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), não
apresentam conhecimentos básicos na matéria. Nessas condições, os jovens não conseguirão se integrar ao promissor ambiente da economia digital.
A parcela dos jovens que irá sustentar a transição demográfica nos próximos anos precisa estar pronta para atuar nessas áreas, e isso só será possível se investirmos consistentemente em educação. A tarefa não é fácil, mas pode trazer grandes recompensas. Estudo realizado por pesquisadores da Escola de Economia da FGV, com apoio da Fundação Lemann, indica que se aumentássemos em 50 pontos a nota dos estudantes brasileiros no Pisa, haveria crescimento de um ponto percentual no PIB.
Já na área da educação profissional e tecnológica, segundo estudo do Itaú Educação e Trabalho, se triplicarmos o acesso dos alunos ao ensino médio técnico profissional no país, o impacto seria ainda maior e o PIB brasileiro poderia registrar aumento de até 2,32%, graças à maior empregabilidade e ganhos salariais relacionados.
Além desses avanços, precisamos garantir às novas gerações uma agenda consistente de formação de habilidades socioemocionais, cada vez mais demandadas pelo mercado, o que se dará pelo envolvimento dos estudantes com a cultura. De acordo com estudo realizado pelo Itaú Social, a inclusão das artes no currículo escolar é essencial para o desenvolvimento de aspectos transversais,
como a socialização, o pensamento crítico, a criatividade, a comunicação e a capacidade para resolução de conflitos.
O envelhecimento da população brasileira é um fato irrefutável. Teremos cada vez menos indivíduos economicamente ativos para uma parcela cada vez maior de inativos. A equação só fechará se houver crescimento da economia e conseguirmos construir políticas inclusivas, que resultem em maior integração das juventudes ao mercado de trabalho, fortalecendo a geração de renda, especialmente no território das novas economias.
Por Eduardo Saron é presidente da Fundação Itaú, instituição que congrega Itaú Social, Itaú Educação e Trabalho e Itaú Cultural.
fonte: Valor Econômico